terça-feira, 5 de abril de 2016

perfeitos

   Até parecia que o destino estava os juntando... Mas com o tempo percebeu que talvez o destino deles fosse ficar separado.
   Tudo parecia perfeito, se conheceram no lugar perfeito, no dia perfeito (era o aniversário dela), até a lua estava perfeita, cheia, redondinha, como ela tanto amava. Conversaram sobre tudo e sobre nada, como se conhecessem desde a infância. Ficaram de mãos dadas enquanto se olhavam e parecia que o tempo parava ali naquelas batidas do coração... Ah, como eles eram o retrato da perfeição e de tão perfeitos que eram, esqueceram que quebra-cabeça só se completa com peças diferentes.
   E ela viu tudo esmorecendo aos poucos, tinha medo do que aconteceria com os dois, mas viveu verdadeiramente enquanto pôde. Assim foi levando as coisas até o dia que ele não atendeu a ligação, não foi ao jantar de bodas dos tios dela, nem mesmo deu uma justificativa digna, fato esse que foi esquecido pela declaração de que os dois não dariam mais certo e que a vida tinha de seguir.
   E para ele seguiu, foi só o tempo de todos pararem de perguntar o por quê do casal perfeito ter se separado, foi só o tempo de cair no esquecimento de todos, menos no dela... Como foi doído vê-lo com outra, uma daquele tipo que nem mesmo dá um bom-dia quando chega em um lugar, que nem pede licença quando passa, assim como a vida estava passando por cima da nossa garota. Mas a questão, é que aquela primeira realmente passou e veio outra, depois outra e mais outra... Até o dia que nossa jovem resolveu paralisar aquela estrada, cansou de ficar estancada na vida esperando que ele visse o quão eles poderiam ser incríveis e felizes juntos, ela então mostrou a todos que poderia ser feliz sozinha.
   E ele voltou?? Claro que sim. Ele percebeu a sua cegueira, lembrou-se que ela tinha sido a única pessoa que fazia suas mãos soarem, que o fazia rir após ela tropeçar em cada pedrinha que encontrava no caminho, lembrou da vontade que sentia de abraçá-la depois de ficar emburrada por ser tão desastrada e cruzar os braços por ele ter rido do bico que fazia e lembrou também de como aquele abraço era maravilhoso, mesmo ela sendo bem mais baixa que ele, parecia que aquele detalhe deixava tudo ainda mais perfeito. E de repente se questionou por que a tinha abandonado, não encontrou um motivo digno, só que ele tinha medo, medo de se envolver tão intensamente e "perder" a melhor fase da vida, como diziam seus amigos. Então, ele viu que realmente tinha perdido o melhor da sua vida e quis reavê-la, consertar o maior erro que tinha cometido.
   Ela o aceitou de volta?? Não.
   Ela deixou de amá-lo?? Na verdade, não, nem sabia se isso aconteceria, só sabia que queria tentar. Talvez, em outros tempos ele fosse o homem da sua vida, mas agora ela sabia que ele também havia sido o homem da sua morte,  que não a física, uma bem maior que essa, a da sua alma. Agora ela só esperava a sua ressurreição, mas esperava sem desespero, pois havia descoberto que a ideia de perfeição era só mais uma lenda, como aquelas que os pais lhe contavam quando pequena e assim ela foi seguindo, ressurgindo, aprendendo a engatinhar, andar e viver...
  E ele, o que fez?? Ele perdeu a mulher que poderia ser a sua noiva, esposa, mãe dos seus filhos, eterna companheira... Hoje ele a olha de longe, vê aqueles rapazes a observando e se aproximando, admirando não só suas curvas, mas também a sua alma, que a cada dia parecia mais bonita, iluminada. Arrependeu-se como nunca, sofreu como um louco, mas em meio a tanta insanidade aprendeu a rezar e a cada noite antes de dormir olhava a lua e pedia por ela na mais bela oração do silêncio do seu coração, ou melhor, do que restava dele, descobriu o significado do altruísmo, sabia que queria vê-la feliz, mesmo que essa felicidade não fosse mais possível para ele.

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